Como ridicularizar um bufão? Como virar do avesso a piada pronta? Como, através do bufão, revelar o país que o cevou e o aplaude? Ernani Ssó tenta responder a isso em Brucutu Rei - Relato delirante da noite de insônia do rei do Bananão, perdido em seu palácio. Em cena, temos um monstro visto por ele mesmo, sem estranheza nenhuma com as estranhezas e sem medo do mau gosto. Se o monstro é brutal, grosso, escatológico, o livro vai tratar como polêmicas a brutalidade, a grossura, a escatologia? É preciso que os criadores do monstro não possam alegar inocência em nome da delicadeza. É preciso devolver algum sentido às palavras. Filho dileto de anos de noticiário tóxico, nos tristes trópicos, o monstro descende também do Ubu de Alfred Jarry, dos contos de fadas e do trabalho dos cartunistas, que nos dão menos um discurso do que imagens.